domingo, 3 de julho de 2011

Dizer não a este estudo do Consumo - é possível?

O Café Filosófico exibido pela TV Cultura neste domingo, cujo tema foi "Dizer não ao consumo predatório - é possível?" me chamou atenção, em um primeiro momento pela temática e, depois, pela decepcionante ausência de conteúdo.

Explico-me melhor: o consumo é um tema que muito me interessa, quando aliado às atuais discussões sobre sustentabilidade e meio-ambiente (e considerando as novas terras para as quais me direciono na pesquisa de doutoramento) chama ainda mais minha atenção, assim, quando soube do título da palestra achei que valeria a pena dar uma espiada, levando em consideração, também, as excelentes curadorias e ciclos já exibidos pelo programa em outros tempos. Figuras e temas relevantes como os que foram apresentados por Eduardo Viveiros de Castro, Maria Rita Khel, Laymert Garcia dos Santos, Maria Filomena Gregori, inclusive sobre consumo, como mostrei aqui antes, atestaram a seriedade do programa, e valem a pena serem vistos (ou revistos, por isso, aproveito e deixo os links para o deleite de vocês).

Mas voltemos à questão da decepção. A fala exibida no programa de hoje foi feita por Ricardo Guimarães, uma figura do mundo dos negócios, especialista em Branding e, diga-se de passagem, muito raso nas suas afirmações. Não que eu tenha algo contra os "homens de negócios", muito pelo contrário, gosto tanto deles que passei 3 anos estudando suas práticas, contudo, minha decepção está no fato desse tipo de discurso sobre consumo ter espaço na televisão brasileira em um programa que, minimamente, se propõe a organizar discussões relevantes sobre temas interessantes e atuais.
Minha decepção - com uma dose de indignação - se deve ao fato de ainda termos que ouvir uma fala sobre consumo que gire em torno da "pirâmide de Maslow", das teorias econômicas utilitaristas, da vontade das empresas em "atender as necessidades dos consumidores" entre outras bravatas que vocês poderão ver com seus próprios olhos, tudo isso, deixa evidente o etnocentrismo ocidental desses pesquisadores e a falta de seriedade em tratar deste assunto. É mais que necessário, é urgente, a entrada de novos ares e novas abordagens para os estudos do consumo. Vindas da antropologia, da sociologia, da psicologia ou de onde quer que seja, é preciso, com a devida seriedade, apresentar perspectivas que abandonem, de uma vez por todas, a ideia de que o consumo, tal como o conhecemos, é um ato individual, de auto expressão, formador de identidades, fruto da natureza humana etc.,etc.,etc., É preciso dizer não a estes estudos sobre consumo - é possível? Não tenho dúvidas que sim.

3 comentários:

  1. Ao ouvir o Ricardo Guimarães, tive a impressão de estar vendo uma aula introdutória e rasa do telecurso 2000.
    Concordo com tudo o que vc falou, mas acho que esses espaços ainda largamente fornecidos a estes profissionais refletem uma conduta que ainda está nas próprias empresas que lidam diariamente com o consumidor.
    Isso me leva a pensar sobre até que ponto as discussões acadêmicas trazidas pelas ciências sociais e humanas são devidamente apropriadas pelo marketing e afins. O que você pensa a respeito?
    Abraços.

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  2. A propósito, também recomendo fortemente a palestra da Luciane Lucas sobre a relação entre consumo e trabalho, ainda nesta mesma série do Café Filosófico: http://www.cpflcultura.com.br/site/2009/12/01/integra-consumo-e-trabalho-na-crise-da-sociedade-contemporanea-luciane-lucas/

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  3. Olá Lorena,
    Super obrigada pelos comentários. Conheço a palestra da Luciane, tive oportunidade de vê-la pessoalmente na CPFL, obrigada por lembrar e por deixar aqui o link.
    Você tem toda razão sobre as apropriações de discussões acadêmicas pelos campos do Mktg e da administração, tenho pensando muito nisso ultimamente, inclusive apresentei um trabalho na última RAM (Reunião de antropologia do Mercosul) sobre o tema, deixo aqui o link (http://www.sistemasmart.com.br/ram/arquivos/6_6_2011_16_17_57.pdf) para sua leitura, ficarei grata com seus comentários e sua opinião, um grande abraço, Magda.

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