quarta-feira, 27 de julho de 2011

Estudos do Consumo, por onde começar?

Algumas pessoas me perguntam ou escrevem pedindo dicas ou sugestões de obras que abordem o consumo do ponto de vista das ciências sociais ou, em particular, pela antropologia. Olhar para os fenômenos do consumo, entretanto, pode acontecer por meio de diferentes e contrastantes perspectivas, sejam elas analíticas, teóricas ou metodológicas. Acredito que o ponto de partida seja a acumulação de conhecimento sobre as principais obras e idéias que, ao longo da história da produção das ciências sociais estiveram interessadas em pensar sobre os atos de consumo e seus efeitos. Esse conhecimento prévio auxilia na escolha de uma perspectiva teórica própria e que esteja em acordo com os fenômenos empíricos observados em cada campo de investigação.
Em suma, antes de tudo, é preciso conhecer o que já foi pesquisado, escrito e dito, mesmo que depois se decida por não concordar completamente com estas abordagens, escolhendo dentre as inúmeras possibilidades aquela que parece mais rentável e interessante.

Uma das obras mais relevantes, nesse sentido, foi organizada por Daniel Miller. Dividida em quatro grandes volumes a obra reúne diferentes textos de importantes autores, reflexões sobre os estudos contemporâneos do consumo e etnografias de diferentes regiões do mundo que abordam o tema:

Consumption

Critical Concepts in the Social Sciences

Edited by Professor Daniel Miller

Introduction by Professor Daniel Miller


A obra, dividida em quatro volumes, apresenta a seguinte organização:

Consumption: Theory and issues in the study of consumption
Consumption: Disciplinary approaches to consumption
Consumption: The history and regional development of consumption
Consumption: Objects, subjects and mediations in consumption

Sem dúvidas, um bom lugar para começar...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Antropologia de Raposa com Roy Wagner

A maioria já deve saber: esse ano Roy Wagner estará no Brasil (Ueba!)
A UFSC (organizadora de sua vinda) terá encontros e palestras imperdíveis na primeira semana de Agosto, depois chega a vez da UFMG, da USP e de outras Universidade pelo Brasil por onde o Antropólogo passará.

Aproveito pra divulgar a disciplina "Tópicos de antropologia contemporânea", oferecida pelo PPGAS/USP no próximo semestre, cheia de leituras e discussões sobre a obra deste autor, vale a pena conferir o programa AQUI. E, sem dúvida, vale a pena participar!


Acesse a programação do encontro na UFSC AQUI

Boas wagnerianas!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Políticas da Natureza e o mapeamento de controvérsias


Começo por descrever alguns pontos fundamentais à nossa conversa:

Coletivo = diferente de sociedade, o coletivo não remete a uma unidade já feita, mas coletivo significa um procedimento para COLIGAR as associações entre humanos e não-humanos.

Ambiente = conjunto exteriorizado do que não se pode mais exatamente nem rejeitar para o exterior como descarga, nem conservar como reserva.

Antropologia experimental = capacidade do antropólogo em conhecer as outras culturas rejeitando, ao mesmo tempo, o mononaturalismo e o multiculturalismo.

Coisa = um negócio dentro de uma assembléia, a etimologia do nome compreende a indicação do coletivo.

Agora a questão: Como fazer uma antropologia experimental sobre o ambiente olhando para coletivos? e coisas? (ops, as coisas fazem parte do coletivo, esse é um dos desafios!)
Ainda não tenho resposta, mas divido aqui as inquietações de uma pesquisa a vir a ser... ainda não sei bem o que.

Recomendo, por ora, a leitura de "Políticas da Natureza: como fazer ciência na democracia" de Bruno Latour e outras coisas interessantes que encontrei:

Vale pena dar uma olhada no experimento liderado por Latour e apresentado nesse site: MAPEANDO CONTROVÉRSIAS

Vale confeir, antes do site acima, as explicações de Latour sobre como essa experiência foi realizada: UM EXEMPLO DA CONTROVÉRSIA

Saudações naturais-e-políticas!

domingo, 3 de julho de 2011

Dizer não a este estudo do Consumo - é possível?

O Café Filosófico exibido pela TV Cultura neste domingo, cujo tema foi "Dizer não ao consumo predatório - é possível?" me chamou atenção, em um primeiro momento pela temática e, depois, pela decepcionante ausência de conteúdo.

Explico-me melhor: o consumo é um tema que muito me interessa, quando aliado às atuais discussões sobre sustentabilidade e meio-ambiente (e considerando as novas terras para as quais me direciono na pesquisa de doutoramento) chama ainda mais minha atenção, assim, quando soube do título da palestra achei que valeria a pena dar uma espiada, levando em consideração, também, as excelentes curadorias e ciclos já exibidos pelo programa em outros tempos. Figuras e temas relevantes como os que foram apresentados por Eduardo Viveiros de Castro, Maria Rita Khel, Laymert Garcia dos Santos, Maria Filomena Gregori, inclusive sobre consumo, como mostrei aqui antes, atestaram a seriedade do programa, e valem a pena serem vistos (ou revistos, por isso, aproveito e deixo os links para o deleite de vocês).

Mas voltemos à questão da decepção. A fala exibida no programa de hoje foi feita por Ricardo Guimarães, uma figura do mundo dos negócios, especialista em Branding e, diga-se de passagem, muito raso nas suas afirmações. Não que eu tenha algo contra os "homens de negócios", muito pelo contrário, gosto tanto deles que passei 3 anos estudando suas práticas, contudo, minha decepção está no fato desse tipo de discurso sobre consumo ter espaço na televisão brasileira em um programa que, minimamente, se propõe a organizar discussões relevantes sobre temas interessantes e atuais.
Minha decepção - com uma dose de indignação - se deve ao fato de ainda termos que ouvir uma fala sobre consumo que gire em torno da "pirâmide de Maslow", das teorias econômicas utilitaristas, da vontade das empresas em "atender as necessidades dos consumidores" entre outras bravatas que vocês poderão ver com seus próprios olhos, tudo isso, deixa evidente o etnocentrismo ocidental desses pesquisadores e a falta de seriedade em tratar deste assunto. É mais que necessário, é urgente, a entrada de novos ares e novas abordagens para os estudos do consumo. Vindas da antropologia, da sociologia, da psicologia ou de onde quer que seja, é preciso, com a devida seriedade, apresentar perspectivas que abandonem, de uma vez por todas, a ideia de que o consumo, tal como o conhecemos, é um ato individual, de auto expressão, formador de identidades, fruto da natureza humana etc.,etc.,etc., É preciso dizer não a estes estudos sobre consumo - é possível? Não tenho dúvidas que sim.