segunda-feira, 27 de abril de 2009

Dá pra imaginar um mundo sem objetos?


Os objetos e as diferentes formas com que estes aparecem na vida cotidiana indicam de modo material ou mesmo simbólico o que somos, o que fazemos, o que pensamos. Eles funcionam como marcadores de diferença, seja etnica, de gênero, de identidade, religiosa etc.
Imaginem só, um mundo sem coisas...

sábado, 25 de abril de 2009

Objetos carregados de sentidos no cinema de Krzysztof Kieślowski



Pensar na vida das coisas não implica apenas em pensar nas transações comerciais, consumo e troca. Os objetos permanecem nas nossas vidas e carregam sentidos que vão muito além daqueles que um dia tiveram, quando comprados, ganhados ou encontrados. Isso significa que a biografia das coisas pode acompanhar nossa própria biografia, e quando objetos passam por determinados momentos, por certas mãos, lugares ou participam de eventos conosco, são capazes de carregar consigo lembranças, recordações e memórias. Sentimentos nossos depoistados nas coisas materiais. Um livro, um amuleto, uma fotografia, um caderno de anotações...são coisas vivas carregadas de significados sociais e sentimentais, são como uma ponte, uma passagem para as memórias e as sensações. O cinema de Krzysztof Kieślowski, especialmente a "Trilogia das Cores" tem um pouco dessa dimensão, onde sentimentos humanos são depositados em coisas não-humanas, o lustre, o colar, a moeda, os animais demonstram a pujança da recordação. São símbolos de laços estabelecidos, laços afetivos humanos compartilhados com coisas materiais.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um tenso ritual de compras



O Jornal Estado de São Paulo (conferir reportagem) escreveu sobre a confusão na porta da loja Magazine Luiza onde pessoas aguardavam ansiosamente para entrar e aproveitar a liquidação. Duas pessoas ficaram feridas durante a confusão, um consumidor reclama: "Eles ainda me prometeram um DVD, por causa da falta de respeito". Claro, qualquer prejuízo moral pode ser reparado com uma mercadoria, como um DVD. Já que a disputa é pelas compras, nada mais apropriado que um objeto para solucionar o problema.
Difícil imaginar porque as pessoas passam a madrugada na fila, na espera da abertura de uma loja onde podem comprar itens que precisam ou simplesmente querem por um preço reduzido. Parece que a possibilidade de economizar "comprando" é o que atrai tantas pessoas. Mas, de fato, há economia nesse tenso ritual de compras? E ainda, será que se trata de uma tentativa de minimizar as desigualdades de forças no âmbito do consumo, onde empresas sempre ganham à custa de consumidores, agora estes esperam ganhar algo à custa da empresa?
Um ótimo trabalho foi realizado pela antropóloga Ciméia Bevilaqua "Consumidores e seus direitos" é uma etnografia que se propõe a refletir sobre esse tipo de embate entre consumidores e empresas nas tensas relações que ocorrem na arena do consumo.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Sociedade de Consumo?


O termo "sociedade de consumo", recorrentemente usado para falar sobre o ato de consumir e acumular objetos na sociedade contemporânea, apresenta alguns problemas conceituais e metodológicos. A começar pela questão: Que tipo de consumo estamos falando? Não é possível pensar em "sociedade de consumo" em oposição a uma sociedade ideal onde não haja consumo algum. A relação entre pessoas e coisas deve ser entendida a partir de uma perspectiva que leve mais a fundo a relação dos homens com os objetos que estes produzem e porquê/como o usam. Claro, as finalidades e formas de produção e de uso são as mais variadas possíveis, mas o fato de simplesmente nos opormos a idéia de uma sociedade tida como aquela que não faz outra coisa a não ser acumular bens não auxilia na possibilidade de compreensão dessa forma de organização social, onde os bens aparecem com um papel fundamental e intenso na vida cotidiana. Uma posição crítica frente ao consumo ou frente a "sociedade de consumo" é muito importante, mas somente críticas e suposições precipitadas acerca do porquê as pessoas precisam de bens, não contribuem para uma reflexão mais profunda sobre os habitos e práticas da sociedade que participamos. Desta vez, não como 'outros'.

domingo, 12 de abril de 2009

Os Brasileiros sempre foram Pós-Modernos



Para o antropólogo francês Bruno Latour, os brasileiros são os mais preparados para a criação de novas disciplinas e novas coletividades

Entrevista com Bruno Latour realizada por Marcelo Fiorini publicada na Revista Cult.

O modernismo seria então uma invenção exótica?
Bruno Latour: Eu diria que esse livro procurou lutar contra o equivalente do exotismo nas sociedades que se denominam modernas, o que se pode chamar de "ocidentalismo". Assim como há um orientalismo para o Oriente, como definiu-o Edward Said, há um exotismo de nós mesmos, quero dizer, da Europa ou da Euro-América. É isso que está ligado à ideia de uma antropologia. Fazíamos a antropologia dos outros, mas não a antropologia de nós mesmos, com exceção das margens, dos aspectos marginais de nossa sociedade, do que sobreviveu: da magia, das festas, da sociabilidade. Mas jamais fazíamos a antropologia do centro que constitui nossas atividades. Eu mesmo aprendi antropologia com excelentes antropólogos na África negra, e quando retornei à Europa, fiquei surpreso com essa assimetria. Quando nós fazemos antropologia (no exterior de nossa cultura), estudamos coisas que nos parecem realmente centrais para as comunidades nas quais passamos a viver. Mas, quando retornamos aos europeus ou aos euro-americanos, pensamos que a antropologia se refere somente à parte marginal. Tudo isso mudou muito. Esse livro foi escrito há 20 anos. Hoje em dia, muitas vezes os antropólogos não mais podem fazer uma pesquisa de campo em outra sociedade, em outros países, pois o acesso a essas áreas tem sido progressivamente restrito ou fechado (é o caso praticamente de toda a África e do Meio Oriente; o que nos resta de fato é apenas a América Latina e talvez uma parte da Ásia). Isso tem redefinido a antropologia como uma reflexão também sobre o centro da sociedade dita moderna, de forma que hoje em dia, essa ideia já se tornou banal, ao passo que na época que escrevi meu livro não era bem assim.

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Alfred Gell e o consumo entre os Gonde Muria



Gell, estudou o consumo entre os Gonde Muria, na Índia, e percebeu que a configuração social desafia nossos pressupostos (diga-se de passagem, muitas vezes básicos) sobre o ato de consumir objetos. Para os Muria, a organização de castas reconfigura a aquisição de bens, especialmente porque os Muria passaram a acumular grandes quantias de dinheiro, o que não significa que eles quisessem gasta-lo, já que a configuração social faz manter um certo padrão e uma forma de viver e se relacionar com os objetos que não deve ser ostentativa sob o risco de perder o pertencimento social ao grupo.
Esse artigo de Gell foi recentemente traduzido em "A Vida social das coisas" de Appadurai, pela editora da UFF. Um belíssimo ensaio!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

50 anos de gênero com agência



Um dos brinquedos mais famosos do mundo completa 50 anos, o que não necessariamente é motivo para comemorações. A boneca Barbie, sem dúvida, um objeto com poder de agência, é do gênero feminino e têm demonstrado de inúmeras formas o que uma mulher deve ser e como deve se comportar. Sua grande influência nas gerações dificilmente é negada, mas também é difícil saber até que ponto seu impacto foi grande, já que a idéia constituida sobre o que , de fato, é ser "mulher" é muito mais antiga que esse pequeno brinquedo infantil.

Revista Newsweek celebra o consumo de luxo



A capa da revista Newsweek anuncia um dossiê sobre o consumo de luxo. A revista afirma que consumidores não conseguem explicar porque compram tantas coisas, alguns acreditam que esta seja a melhor forma, no mundo contemporâneo, de se consolar ou se presentear. Após defender o consumo para a maioria dos exevcutivos, que não poderiam encontrar outras formas de realização, ela finaliza dizendo que a razão desse consumo é simples: eles pagam pela qualidade. Coisas bem-feitas são caras, especialmente itens em estilo clássico, que oferecem muitas vantagens quando comparados às coisas comuns. A primeira delas é a boa aparência.

Parece que a razão não é tão simples assim. O jornalismo, neste caso, funcionou mais como publicidade, ao citar as diversas marcas de luxo, do que como reflexão sobre o ato de consumir. Será que a situação financeira crítica pela qual passam os meios de comunicação faz nascer novas formas de financiamento implícitas nas reportagens?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

As coisas vivas

“No decorrer da minha existência, coloquei as descrições de tijolos e de jarras, de bolas de sinuca e de galáxias numa caixinha... e deixei-as repousar em paz. Numa outra caixa, coloquei coisas vivas: os caranguejos do mar, os homens, os problemas de beleza e as questões de diferença. É o conteúdo da segunda caixa...que, a mim, interessa”
Gregory Bateson