Por Magda Ribeiro
O mundo em que vivemos é uma construção social, estamos todos de acordo quanto a isso. Há, contudo, tipos muito específicos de construções da realidade e de modelos socialmente fabricados e prescritos. Os brinquedos, muito embora pareçam simples 'jogos infantis' são capazes de construir complexos significados acerca do como nos entendemos, especialmente esses pequenos seres, as crianças, cuja imaginação e distinção acerca da 'ficção' e da 'realidade' está por se configurar.
Ao considerar que brinquedos são representações simbólicas, o artigo The World according to playmobil (2009), se apresentou como um interessante exercício de semiótica para pensar a organização de objetos cotidianos, neste caso, um tipo específico de brinquedo infantil. O autor destaca que brinquedos foram objetos de muitos estudos freudianos, mas não frequentemente na semiótica, muito embora seja inegável a capacidade de figuras e bonecos, como os playmobil, de influenciarem as primeiras percepções dos atores sociais e oferecerem perspectivas de profissões, trabalho, lazer, raça, gênero, idade e classe social.
Playmobil oferece às crianças diferentes tipos sociais, associando-os à acessórios e atividades particulares, os playmobil estruturam um modelo de mundo social para crianças muito pequenas. Nesse sentido, o artigo foca na estrutura de playmobil como um recurso semiótico, naquilo que está e não está incluído, e também, no modo como acessórios são designados para comunicar uma perspectiva particular de mundo social.
A escolha de playmobil enquanto objeto de investigação trás duas importantes dimensões da semiótica: primeiro, as regras que conectam significante e significado e segundo, a produção e interpretação semiótica é multimodal. Deste modo, playmobil é identificado como um “sistema” distinto, embora as crianças brinquem misturando-os com outros brinquedos e outros “sistemas”.
Por essa razão, o autor empreende uma análise prévia sobre outros tipos de brinquedos, demonstrando uma interessante abordagem sobre as bonecas. Leeuwen considera que a iconografia das bonecas é um meio de representação do mundo e suas identidades são construídas culturalmente, já que ela é significada por atributos culturais, ou de modo geral, por atributos que podem ser modificados. No mundo das bonecas o que é “físico” e imutável e o que é “cultural” e transformado, pode ser articulado de maneira complexa
A partir disso, o autor empreende uma delicada análise, ao considerar os brinquedos enquanto possuidores de papel social, identidade e significado simbólico, afirmando que eles participam simultaneamente de um mundo real contemporâneo e de um mundo temporalmente distante e mítico. Leeuwen (2009) utiliza essa moldura teórica para, então, discutir alguns pontos chave nas características de playmobil. Suas principais considerações são: A identidade familiar desempenha um papel importante em playmobil; Alguns elementos como cabelo longo, capacete, cabelo grisalho fixam características de tipos sociais específicos; Eles representam o mundo social com certa capacidade de realismo
Para o autor (2009:311) playmobil é definido, não apenas por seus atributos “físicos” e “culturais”, mas também por suas atividades – curioso que apenas a “família étnica” não acompanha acessórios como casa, mobília, carro ou ferramentas. Leeuwen tenta demonstrar que o modo como esse sistema de brinquedo é designado e comercializado promove um modelo de sociedade, estruturado e organizado por alguns princípios como trabalho e lazer, idade, gênero, etnicidade e classe e pelas diferenças entre os mundos privado e público, marcando todas essas categorias sociais com clareza e atributos visuais.
Referência: Leeuwen, Theo Van (2009). The world according to Playmobil. Semiotica (2009), 299–315